Haroldo de Campos – transcriações poéticas – ILÍADA, I, 1-14 by Luciana Stegagno Picchio

Haroldo de Campos – transcriações poéticas

Haroldo de Campos – foto: German Lorca

Haroldo Eurico Browne de Campos nasceu em São Paulo, em 19 de agosto de 1929. Formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo. Após ter publicado poemas e traduções na imprensa paulistana durante a década de 1940, lançou seu primeiro livro – O auto do possesso – pelo Clube de Poesia de São Paulo, em 1950.
Dois anos depois, formou o grupo Noigandres, com Augusto de Campos, seu irmão, e Décio Pignatari, ambos também estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Noigandres, palavra provençal de significado controverso mencionada no décimo dos Cantos do poeta norte-americano Ezra Pound, também se tornou o título da revista publicada pelo grupo, em cinco números, durante dez anos (Noigandres I, 1952; II, 1955; III, 1956; IV, 1958; V, 1962)*. Como coinventor da Poesia Concreta em âmbito internacional, o grupo Noigandres também expôs sua produção poética, para além dos limites de suas publicações impressas, na Exposição Nacional de Arte Concreta, ocorrida no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1956, e no Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, 1957. Com a ampliação das atividades do grupo Noigandres no contexto da equipe Invenção, Haroldo colaborou com publicações para a página por ela editada no diário Correio Paulistano, em frequência semanal, de 1960 a 1967. A Invenção – Revista de arte e vanguarda**, editada pela equipe em cinco números, entre 1962 e 1967, também contou com a sua significativa contribuição.
A primeira coletânea de sua obra poética, Xadrez de estrelas – Percurso textual (1949-1974), publicada em 1976, contém sua produção inicial e concreta, além de uma amostra significativa de Galáxias, obra em prosa poética, editada – em sua versão definitiva – em 1984. Em seus livros de poesia posteriores – de Signantia: Quase Coelum – Signância: quase céu (1979) até o póstumo Entremilênios (2009) –, Haroldo de Campos revela uma escrita de grande densidade intertextual e algo grau de elaboração e complexidade poéticas, o que o torna uma das referências centrais da poesia brasileira.

Haroldo de Campos – foto: (…)

Sua produção poética é indissociável de sua obra tradutória, registrada em inúmeros livros – desde Ezra Pound – Cantares (em colaboração com Augusto de Campos e Décio Pignatari, 1960) até a Ilíada de Homero (2 vols., 2002 / 2003), além das publicações póstumas. O que o singulariza como tradutor literário é não apenas seu amplo repertório linguístico-literário, desde textos hebraicos do cânon bíblico até poetas contemporâneos seus, como Octavio Paz, Giuseppi Ungaretti e Konstantinos Kaváfis, passando por Dante e Goethe, pela poesia clássica chinesa e pelo teatro Nô japonês, além da poesia moderna de diversas línguas. Sua conceituação da atividade tradutória como “transcriação”, teorizada em inúmeros ensaios e textos introdutórios a suas traduções, torna-o internacionalmente uma referência singular no âmbito da tradução literária.
Sua atividade tradutória, também exercida como reflexão crítica sobre o fazer literário, sempre foi acompanhada de intensa atividade teórica, registrada em inúmeros ensaios sobre arte e literatura. Seu intenso intercâmbio com intelectuais de todo o mundo – como Umberto Eco, Roman Jakobson, Tzvetan Todorov, Octavio Paz, entre muitos outros – transparece em seus textos, dotados de uma atenção singular para com o pensamento contemporâneo, paralelamente a um interesse erudito em desvendar o passado em suas fontes.
:: Fonte: Casa das Rosas (acessado em 15.2.2016).
(* e **) Na pagina dedicada a Décio Pignatari neste site, você poderá encontrar mais informações sobre as revistas ‘Noigandres’ e ‘Invenção’.

livro Auto do possesso, edição 1950

OBRA DE HAROLDO DE CAMPOS
Poesia
:: Auto do possesso. São Paulo: Clube de Poesia de São Paulo, 1950.
:: Servidão de passagem. São Paulo: Noigandres, 1962.
:: Xadrez de estrelas: percurso textual1949 -1974. São Paulo: Perspectiva, 1976.
:: Signantia: quasi coelum/signância: quase céu. São Paulo: Perspectiva, 1979.
:: Galáxias. São Paulo: Ex-Libris, 1984; reedição: inclui o CD Isto não é um livro de viagem [poemas oralizados pelo autor, com participação do citarista Alberto Marsicano; supervisão técnica do poeta e compositor Arnaldo Antunes]. São Paulo: Editora 34,1992; 2º edição revista [organização de Trajano Vieira]. São Paulo: Editora 34, 2004; 3ª ed., 2011..
:: A educação dos cinco sentidos. São Paulo: Brasiliense, 1985; 2ª ed., (inclui um CD). São Paulo: Iluminuras, 2013.
:: Finismundo: a última viagem. Ouro Preto: Tipografia do Fundo de Ouro Preto, 1990.
:: Melhores poemas Haroldo de Campos. [seleção e organização Inês Oseki-Dépré]. Coleção Melhores Poemas. Rio de Janeiro: Global, 1992.
:: Yugen: cuaderno japonês. [poemas traduzidos por Andrés Sáanches Robayna]. Tenerife, Syntaxis, 1993.
:: Gatimanhas e felinuras. [Haroldo de Campos e Guilherme Mansur]. Ouro Preto: Tipografia do Fundo de Ouro Preto, 1994.
:: Crisantempo: no espaço curvo nasce um. (inclui um CD). São Paulo: Perspectiva, 1998; 2ª ed., 2004.
:: A máquina do mundo repensada. São Paulo: Ateliê Editorial, 2000.
:: Entremilênios. [organização Carmen de Arruda Campos]. Coleção Signos, 48. São Paulo: Perspectiva, 2009, 256p.

CD + livro poemas – oralizações, música, xilogravura/ilustrações
:: Xilo VT e/ou elogio da xilo. [CD sobre textos de Haroldo de Campos, com oralizações do autor, Bete Coelho e Arnaldo Antunes; livro-objeto com xilografias de Maria Bonomi]. Edição limitada – 64 exemplares. São Paulo, 1994.
:: Cadumbra – metapoemas. [inclui CD e livro da escultora Denise Milan; texto e oralização de Haroldo de Campos]. Edição bilíngue. São Paulo: Difusão Cultural do Livro, 1997.

Ensaios

Haroldo de Campos

:: ReVisão de Sousândrade: textos críticos, antologia, glossário, biobibliografia. [Haroldo de Campos e Augusto de Campos]. São Paulo: Edições Invenção,1964; 2ª ed., ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982; 3ª ed., ampliada, São Paulo: Perspectiva, 2002.
:: Teoria da poesia concreta: textos críticos e manifestos 1950-1960. [Haroldo de Campos, Décio Pignatari e Augusto de Campos]. São Paulo: Edições Invenção, 1965; 2ª ed., ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1975; 3ª ed., São Paulo: Brasiliense, 1987; 5ª ed., Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2006, 296p.
:: Sousândrade – poesia. [Haroldo de Campos e Augusto de Campos]. Rio de Janeiro: Agir, 1966; 3ª ed., revista e ampliada, 1995.
:: Oswald de Andrade – trechos escolhidos. Rio de Janeiro: Agir, 1967.
:: Metalinguagem: ensaios de teoria e crítica literária. Petrópolis RJ: Vozes, 1967; 3ª ed., São Paulo: Cultrix, 1976.
:: A arte no horizonte do provável e outros ensaios. São Paulo: Perspectiva, 1969; 2ª ed., 1972; 3ª ed., 1975; 4ª ed. 1977; 5ª ed., 2010.
:: Guimarães Rosa em três dimensões. [Haroldo de Campos, Pedro Xisto e Augusto de Campos]. 1970.
:: Morfologia do Macunaíma. São Paulo: Perspectiva, 1973; 2ª ed., 2008.
:: A operação do texto. São Paulo: Perspectiva, 1976.
:: Ideograma: lógica, poesia, linguagem. [organização e ensaio introdutório Haroldo de Campos]. São Paulo: Cultrix; 1977; 3ª ed., São Paulo: Edusp, 1994; 4ª ed., 2000.
:: Ruptura dos gêneros na Literatura latino-americana. São Paulo: Perspectiva, 1977.
:: Deus e o diabo no Fausto de Goethe. São Paulo: Perspectiva, 1981; 4ª ed., 2001.
:: O sequestro do barroco na formação da literatura brasileira: o caso Gregório de Matos. Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado, 1989; 2ª ed., São Paulo: Iluminuras, 2011.
:: Aldir: geometrie parlanti/geometrias falantes. [Haroldo de Campos, Mario Trufelli e Aldir Mendes de Souza]. 1991.
:: Metalinguagem e outras metas. (edição revista e ampliada de ‘Metalinguagem’ – 1967). São Paulo: Perspectiva, 1992; 4ª ed., 2010.

Haroldo de Campos – autografando o livro “Depoimentos de Oficina’”.

:: Livro de Jó. [introdução crítica e fixação do texto da tradução de Elói Ottoni]. São Paulo: Giordano|Loyola, 1993.
:: Três (Re)inscrições para Severo Sarduy. São Paulo: Memorial da América Latina, 1995.
:: Sobre finismundo: a última viagem. Rio de Janeiro: Sette Letras,1996.
:: O arco-íris branco: ensaios de literatura e cultura. Rio de Janeiro: Imago, 1997.
:: Os Sertões dos Campos: duas vezes Euclides. [Haroldo de Campos e Augusto de Campos]. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1997.
:: Três (Re)inscrições para Severo Sarduy. 1999.
:: Joan Brossa i la poesia concreta. in: catálogo da ‘Mostra Joan Brossa o la revolta poètica’, (org.). Manuel Guerreiro Barcelona: Fundació Joan Miró, 2001.
:: Depoimentos de Oficina. [prefácio José Horácio de Almeida Nascimento Costa]. São Paulo: Unimarco Editora, 2002.
:: O segundo arco-íris branco. São Paulo: Iluminuras, 2010.
:: Haroldo de Campos – transcriação. (coletânea de textos sobre a tradução literária).. [organização Marcelo Tápia e Thelma Médici Nóbrega]. 1ª ed., São Paulo: Perspectiva, 2013; 2015.
:: A ReOperação do texto. Haroldo de Campos. (reedição ampliada de ‘A operação do texto’ – 1976). São Paulo: Editora Perspectiva, 2013.

Ensaios, artigos e poemas em revistas e jornais
CAMPOS, Haroldo de. pound paideuma [ideogramização da poesia] “prefácio”, do  do livro “ezra pound cantares”. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação – MEC, 1960. in: Antonio Miranda (reprodução). Disponível no link. (acessado em 16.2.2016).
________ . Livro de Ensaios: Galáxias. Revista Iberoamericana, XLIII (98-99), enero-junio|1977, p. 39-49.
________ . La poesía Concreta según Haroldo de Campos. (entrevista), Vuelta, 25, diciembre, 1978, p. 16-22.
________ .  A  escritura  mefistofélica:  paródia  e  carnavalização  no  Fausto  de  Goethe. in: DIAS, Ângela; LYRA, Pedro (org.). Sobre a paródia. Rio de Janeiro: tempo Brasileiro, 1980.
________ .  Da razão antropofágica, diálogo e diferença na cultura brasileira. in: Boletim Bibliográfico. Biblioteca Mário de Andrade, Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, v. 44, n. 1-4, jan./dez. 1983.
________ . De la poesía concreta a Galaxias y Finismundo. 40 años de actividad poética en Brasil”. [traducción de Carmen Salas y Rodolfo Mata]. Vuelta  177, agosto, 1991, p. 19-27.
________ . Tradução e reconfiguração do imaginário: o tradutor como transfingidor. in: COUTHARD, M.; Caldas, M. R. (orgs.). Tradução: teoria e prática. Florianópolis: Editorial UFSC, 1991.
________ . Da transcriação poética e semiótica da operação tradutora. Cadernos Viva Voz. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2011.

Revista Noigandres
:: Noigandres 1. [“Augustum per Angusta” -e- “O sol por natural“, de Augusto de Campos; “Rumo a nausicaa“, de Décio Pignatari; “A cidade” -e- “Thalassa Thalassa”, de Haroldo de Campos]. São Paulo: Edição dos Autores, (novembro de)1952, 72p.
:: Noigandres 2. São Paulo: Edição dos Autores, (fevereiro de) 1955.
:: Noigandres 3. São Paulo: Edição dos Autores, (dezembro de) 1956.
:: Noigandres 4. [Plano-Piloto para Poesia Concreta – Décio Pignatari, Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Ronaldo Azered; capa Hemelindo Fiaminghi]. São Paulo: Edição dos Autores, (março de) 1958.
Antologia
:: Antologia Noigandres*: do verso à poesia concreta. [Décio Pignatari, Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Ronaldo Azeredo e José Lino Grünewald; capa Alfredo Volpi].  São Paulo: Massao Ohno Editora, 1962, 204p.
(*) Noigandres. Acesse AQUI!

Haroldo de Campos

Obra de Haroldo de Campos publicada no exterior
Alemão
:: Noigandres: konkrete texte (Poesia concreta).. [edição de Max Bense e Elisabeth Walther; prefácio de Helmut Heissenbuettel e posfácio de Haroldo de Campos]. Série Rot, n. 7, Stuttgart, 1962.
:: Versuchsbuch Galaxien (Galáxias).. [tradução Vilem Flusser e Anatol Rosenfeld]. Stuttgart: E. Walther, 1966.

Espanhol
:: Noigandres I: Augusto de Campos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos. [prólogo y selección de Hilda Scarabótolo de Codima; traducción de Antonio Cisneros]. Lima: Centro de Estudos Brasileiros, 1983.
:: La educación de los cinco sentidos (A educação dos cinco sentidos).. [traducción, prólogo y notas complementarias de Andrés Sanchez Robayna]. Barcelona: Àmbit Serveis Editoriaes, 1990.
:: Finismundo: el último viaje. [tradução André Sánchez Robayna]. Málaga: Montes, 1992.
:: Yugen: Cuaderno Japonés. [tradução André Sánchez Robayna]. Tenerife: Sintaxis, 1993.
:: De la razón antropofágica y Otros ensayos. [seleção, tradução e prólogo de Rodolfo Mata]. Ciudad de México: Editorial Siglo Veintiuno, 2000.
:: Transideraciones (Transiderações).. [tradução Eduardo Milán e Manuel Ulacia]. Ciudad de México: Ediciones El Tucán de Virginia: Fundación E. Gutman, 1987.
:: Galaxia concreta. {Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari}.. [edição de Gonzalo Aguilar]. Ciudad do México: Universidad Iberoamericana: Artes de México, 1999.
:: Crisantiempo (Crisantempo).. [tradução Andrés Sánchez Robayna]. Barcelona: Editorial El Acantilado, 2004.
:: El ángel izquierdo de la poesía: poética y política – Haroldo de Campos. Antología bilíngue. [traducción Arturo Carrera]. Colección Yerba Mala Cartonera 24.  Buenos Aires: Eloisa Cartonera, 2006, 71p.
:: Galaxias. [traducción de Reynaldo Jiménez; prólogo de Roberto Echavarren]. Montevideo: La Flauta Mágica, 2010.

Francês
:: L’Éducation dês cinq sens (A educação dos cinco sentidos).. [tradução Luiz Carlos de Brito Rezende]. Paris: Plein Chant, 1989.
:: Galaxies (Galáxias).. [tradução Inês Oséki-Dépré]. La Souterraine: La Main Courante, 1998.
:: Yugen: Cahier Japonais. [tradução Inês Oséki-Dépré]. La Souterraine: La Main Courante, 2000.
:: Haroldo de Campos: une anthologie. [tradução Inês Oséki-Dépré]. Paris: Éditions Al Dante, 2005.

Húngaro
:: Konkrét Versek. [tradução Petöcz András e Pál Ferenc]. Budapeste: Íbisz, 1997.

Inglês
:: Novas: Selected Writings of Haroldo de Campos. [edição A. S. Bessa e Odile Cisneros; prefácio de Roland Greene]. Evanston: Northwestern University Press, 2007.

Italiano
:: L’Educazione dei cinque sensi (A educação dos cinco sentidos).. [tradução Daniela Ferioli]. Pesaro: Metauro Edizioni, 2005.

Japonês
:: Plano-Piloto para Poesia Concreta. [Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos].. [tradução de Kitasono Katsue]. na revista VOU, em Tóquio.

Haroldo de Campos – foto: Acervo Casa das Rosas

Traduções – transcriações de Haroldo de Campos
:: Cantares de Ezra Pound. [tradução Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos; prefácio Haroldo de Campos]. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação – MEC, 1960.
:: Panorama do Finnegans Wake, de James Joyce. [tradução Haroldo de Campos e Augusto de Campos]. São Paulo: Comissão Estadual de Literatura|Secretaria da Cultura, 1962; 3ª ed., ampliada. São Paulo: Perspectiva, 2001.
:: Maiakovski: poemas. [tradução Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Boris Schnaiderman]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967; 2ª ed., ampliada. São Paulo: Perspectiva, 1982; 5ª ed., 1992; 7º ed., 2006.
:: Poesia russa moderna. [tradução Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Boris Schnaiderman]. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1968; 2ª ed., São Paulo: Brasiliense, 1985; 3ª ed., ampliada. São Paulo: Perspectiva, 2001.
:: Antologia poética de Ezra Pound. [tradução Décio Pignatari, Augusto de Campos, Haroldo de Campos, José Lino Grünewald e Mário Faustino]. Lisboa: Ulisséia, 1968.
:: Traduzir e trovar. [tradução Haroldo de Campos e Augusto de Campos]. São Paulo: Papyrus, 1968.
:: Dante: seis cantos do paraíso. [tradução Haroldo de Campos; ilustrações João Câmara]. 1ª edição limitada – 100 exemplares. Rio de Janeiro: Gastão de Holanda editor, 1976; 2ª ed., Rio de Janeiro: Fontana – Instituto Italiano de Cultura, 1978.
:: Mallarmé. [tradução Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos]. Edição bilíngue. São Paulo: Perspectiva, 1974; 2ª ed., 1980; 3ª ed., ampliada. 2006.
:: Transblanco: em torno a blanco de Octávio Paz. [tradução Haroldo de Campos em parceria com Octávio Paz].  Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1981 e 1986; 2ª ed., ampliada. São Paulo: Siciliano, 1994.
:: Ezra Pound – Poesia. [tradução Décio Pignatari, Augusto de Campos, Haroldo de Campos, José Lino Grünewald e Mário Faustino; organização, introdução e notas de Augusto de Campos; ensaio crítico de Haroldo de Campos]. Edição bilíngue. São Paulo: Hucitec; Brasília: Editora UnB, 1983.

Haroldo de Campos e Augusto de Campos

:: Qohélet – O-que-Sabe (Eclesiastes).. [tradução Haroldo de Campos em colaboração com Jacó Guinsburg]. São Paulo: Perspectiva, 1990.
:: Bere’shith: a cena de origem (Gênesis)..  [tradução Haroldo de Campos]. São Paulo: Perspectiva, 1993.
:: Hagoromo de Zeami: o charme sutil. [tradução Haroldo de Campos com participação de Darcy Yasuco Kusano e Elsa Taeko Doi]. Edição bilíngue. São Paulo: Estação Liberdade, 1994.
:: Mênis: a ira de Aquiles (Canto I da Ilíada de Homero)..  [tradução Haroldo de Campos; ensaio de Trajano Vieira]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1994.
:: Escrito sobre Jade: Poesia  clássica  chinesa.  [tradução Haroldo de Campos]. Edição bilíngue. Ouro Preto: Tipografia do Fundo de Ouro Preto, 1996; 2ª ed., [organização Trajano Vieira]. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009.
:: Pedra e luz na poesia de Dante. [tradução Haroldo de Campos]. Edição bilíngue. 1998.
:: Os  nomes e os navios (Canto II da Ilíada de Homero).. [tradução e ensaio crítico de Haroldo de Campos e tradução de Odorico Mendes; comentado por Trajano Vieira]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1999.
:: Ilíada de Homero. vol. I. [tradução Haroldo de Campos; introdução e organização de Trajano Vieira]. Edição bilíngue. São Paulo: Mandarim, 2001.
:: Ilíada de Homero. vol. II. [tradução Haroldo de Campos]. Edição bilíngue. 2002.
:: Ungaretti: daquela estrela à outra. [tradução Haroldo de Campos e Aurora Bernardini]. Edição bilíngue. São Paulo: Mandarim, 2002.
:: Éden: Um tríptico bíblico. [tradução Haroldo de Campos]. Edição bilíngue. 2004.
:: Konstantinos Kaváfis: poemas. [organização Trajano Vieira; tradução Haroldo de Campos]. 1ª ed., São Paulo: Editora Cosac Naify, 2012.

Antologias (participação)
:: Concrete Poetry: an international anthology. [organização e introdução Stephen Bann]. London: London Magazine Editions, 1967.
:: An Anthology of Concrete Poetry. [organização Emmett Williams]. New York: Something Else Press, 1967.
:: Concrete Poetry: a World View. [organização e introdução Mary Ellen Solt]. Bloomington: Indiana University Press, 1968.
:: Antologia da Poesia Concreta em Portugal. (entrevista com Haroldo de Campos).. [organização José-Alberto Marques e E. M. de Melo e Castro]. Lisboa: Assírio & Alvim, 1973.

“Dice el Corán: Dios ha dado a cada pueblo un profeta en su lengua. De la misma manera, todo traductor es un profeta para su pueblo.”
– Goethe, em “Fragmentos sobre la naturaleza”.
 

“Quanto  às  palavras  e  frases  em  outros  idiomas – sempre  de  valor  mântrico, “transmental”,  ainda  quando  não  imediatamente  alcançável  no  nível semântico – essas palavras e  frases  são, via de  regra, traduzidas ou glosadas no  contexto,  fluindo assim  e confluindo  para  o  ritmo  do  todo.”
– Haroldo de Campos, em “Galáxias. São Paulo: Editora 34, 2004, p. 119.

“Então, para nós, tradução de textos criativos será sempre recriação, ou criação paralela, autônoma  porém  recíproca.  Quanto  mais  inçado  de  dificuldades  esse  texto,  mais recriável, mais sedutor enquanto possibilidade aberta de recriação. Numa tradução dessa natureza,  não  se  traduz  apenas  o  significado, traduz-se  o  próprio  signo,  ou  seja,  sua fisicalidade,  sua  materialidade  mesma  […]  O  significado,  o  parâmetro  semântico,  será apenas e tão-somente a baliza demarcatória do lugar da empresa recriadora. Está-se, pois no avesso da chamada tradução literal.”
– Haroldo de Campos, em “Da transcriação poética e semiótica da operação tradutora”. Cadernos Viva Voz. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2011, p. 34.

Haroldo de Campos

POEMAS ESCOLHIDOS DE HAROLDO DE CAMPOS

esses trigênios’ vocalistas
/ que idéia é essa de querer plantar
ideogramas no nosso quintal
(sem nenhum laranjal          Oswald)?
e (Mário) desmanchar
a comidinha das crianças?

poesia pois é
poesia

te detestam
lumpenproletária
voluptuária
vigária
elitista piranha do lixo
porque não tens mensagem
e teu conteúdo é tua forma
e porque és feita de palavras
e não sabes contar nenhuma estória
e por isso és poesia
como Cage dizia

ou como
há pouco
augusto
o augusto:

que a flor flore
o colibri colibrisa
e a poesia poesia
– Haroldo de Campos, em “A educação dos cinco sentidos”. São Paulo: Brasiliense, 1985.

§

Le don dú poème
um poema começa
por onde ele termina:
a margem de dúvida
um súbito inciso de gerânios
comanda seu destino

e, no entanto ele começa
(por onde ele termina) e a cabeça
grisalha(branco topo ou cucúrbita
albina laborando signos) se
curva sob o dom luciferino –

domo de signos: e o poema começa
mansa loucura cancerígena
que exige estas linhas do branco
(por onde ele termina)
– Haroldo de Campos, em “A educação dos cinco sentidos”. São Paulo: Brasiliense, 1985.

§

Signantia: quasi coelum
1,1
Glande de cristal
desoculta
ramagem de signos
soa
o acorde do uni
verso
campana estimulada
rútilo
último
coere                 cúpula radiosa

um sino
sim
– Haroldo de Campos em “Signantia: quasi coelum”. São Paulo: Perspectiva, 1979.

§

mais        mais
menos    mais    e      menos
mais     ou   menos     sem     mais
nem     menos    nem    mais
nem    menos  menos
– Haroldo de Campos, in “Noigandres 4”. São Paulo: Edição dos Autores, março|1958.

§

ryoanji
o silêncio
ajardinado

sussurra um
koan de pedra

caligrafado
na areia

são
dorsos de tigre
estes
que assomam
na escuma
da areia
branca?

quinze pedras
mas você
nunca as vê
todas

imaginar
as que faltam
alegra
a mente
de ausente
presença
– Haroldo de Campos, em “Crisantempo: no espaço curvo nasce um”. São Paulo: Perspectiva, 1998, p. 270.

§

as rãs
daqui e dali    s    l    a    d
a   t    n    o

o charco soa   
– Haroldo de Campos, em “Crisantempo: no espaço curvo nasce um”. São Paulo: Perspectiva, 1998.

§

o velho tanque
rã salt’
tomba
rumor de água
– Haroldo de Campos, em “A arte no horizonte do provável”.  São Paulo: Perspectiva, 1969.

§

Alberto Marsicano – por (..)

pré-haicai (para marsicano)
num relâmpago
o tigre
atrás da
corça
(isso
disse
sousândrade)
ou:
tiro nas
lebres de
vidro
do
invisível
(cabral:
falou)
assim a
multi-
mínima
arte do
hai-
cai
-bashô buson issa
(& outros ou-
tros) a
(vooflor)
borboleta
e o ramo
onde ela
pousa
– Haroldo de Campos (abr/maio 1988), em “Crisantempo: no espaço curvo nasce um”. São Paulo: Perspectiva, 1998, p. 103.

§

  Périplo?
Não há               Vigiam-te os semáforos.
Teu fogo prometeico se resume
à cabeça de um fósforo  – Lúcifer
portátil e/ou
ninharia flamífera
Capitula
( cabeça fria )
tua húbris.                      Nem sinal
de sereias.
Penúltima             – é o máximo a que aspira
tua penúria de última
Tule.        Um postal do Éden
Com isso te contentas.
Açuladas sirenes
cortam teu coração cotidiano.
– Haroldo de Campos, em “Finismundo: a última viagem”, do livro Crisantempo: no espaço curvo nasce um.São Paulo: Perspectiva, 1998, p. 59.

§

O poeta ezra pound desce aos infernos
não para o limbo
dos que jamais foram vivos
nem mesmo
para o purgatório dos que esperam
mas para o inferno
dos que perseveram no erro
apesar de alguma contrição
tardia e da silente senectude
– diretamente com retitude –
o velho ez
já fantasma de si mesmo

e em tanta danação
quanto fulgor de paraíso
– Haroldo de Campos, em “Crisantempo: no espaço curvo nasce um”. São Paulo: Perspectiva, 2004.

§

horácio contra horácio
ergui mais do que o bronze ou que a pirâmide
ao tempo resistente um monumento
mas gloria-se em vão quem sobre o tempo
elusivo pensou cantar vitória:
não só a estátua de metal corrói-se
também a letra os versos a memória
— quem nunca soube os cantos dos hititas
ou dos etruscos devassou o arcano?
o tempo não se move ou se comove
ao sabor dos humanos vanilóquios —
rosas e vinho — vamos! — celebremos
o instante       a ruína       a desmemória
– Haroldo de Campos, em “Crisantempo: no espaço curvo nasce um”. São Paulo: Perspectiva, 2004.

§

“e começo aqui e meço aqui este começo e recomeço e remeço e arremesso e aqui me meço quando se vive sob a espécie da viagem o que importa não é a viagem mas o começo da por isso meço por isso começo escrever mil páginas escrever milumapáginas para acabar com a escritura para começar com a escritura para acabarcomeçar com a escritura por isso recomeço por isso arremeço por isso teço escrever sobre escrever é o futuro do escrever sobrescrevo sobrescravo em milumanoites miluma-páginas ou uma página em uma noite que é o mesmo noites e páginas mesmam ensimesmam onde o fim é o comêço onde escrever sobre o escrever é não escrever sobre não escrever e por isso começo descomeço pelo descomêço desconheço e me teço um livro onde tudo seja fortuito e forçoso um livro onde tudo seja não esteja um umbigodomundolivro um umbigodolivromundo um livro de viagem onde a viagem seja o livro o ser do livro é a viagem por isso começo pois a viagem é o começo e volto e revolto pois na volta recomeço reconheço remeço um livro é o conteúdo do livro e cada página de um livro é o conteúdo do livro e cada linha de uma página e cada palavra de uma linha é o conteúdo da palavra da linha da página do livro um livro ensaia o livro todo livro é um livro de ensaio de ensaios do livro por isso o fim-comêço começa e fina recomeça e refina e se afina o fim no funil do comêço afunila o comêço no fuzil do fim no fim do fim recomeça o recomêço refina o refino do fum e onde fina começa e se apressa e regressa e retece há milumaestórias na mínima unha de estória por isso não conto por isso não canto por isso a nãoestória me desconta ou me descanta o avesso da estória que pode ser escória que pode ser cárie que pode ser estória tudo depende da hora tudo depende da glória tudo depende de embora e nada e néris e reles e nemnada de nada e nures de néris de reles de ralo de raro e nacos de necas e nanjas de nullus e nures de nenhures e nesgas de nulla res e nenhumzinho de nemnada nunca pode ser tudo pode ser todo pode ser total tudossomado todo somassuma de tudo suma somatória do assomo do assombro e aqui me meço e começo e me projeto eco do comêço eco do eco de um começo em eco no soco de um comêço em eco no oco de um soco no osso e aqui ou além ou aquém ou láacolá ou em toda parte ou em nenhuma parte ou mais além ou menos aquém ou mais adiante ou menos atrás ou avante ou paravante ou à ré ou a raso ou a rés começo re começo rés começo raso começo que a unha-de-fome da estória não me come não me consome não me doma não me redoma pois no osso do comêço só conheço o osso o osso buço do comêço a bossa do comêço onde é viagem onde a viagem é maravilha de tornaviagem é tornassol viagem de maravilha onde a migalha a maravilha a apara é maravilha é vanilla é vigília é cintila de centelha é favilha de fábula é lumínula de nada e descanto a fábula e desconto as fadas e conto as favas pois começo a fala.
– Haroldo de Campos, fragmento 1 – ‘canto galático’, do livro “Galáxias”. São Paulo: Editora 34, 2004.

§
fecho encerro reverbero aqui me fino aqui me zero não conto não quero  anoiteço desprimavero me libro enfim neste livro vôo me revôo mosca e aranha mina e minério corda psaltério musa nãomaisnãomais que destempero joguei limpo joguei sério nesta sede me desaltero me descomeço me encerro no fim do mundo o livro fina o fundo o fim o livro a sina não fica traço nem seqüela jogo de dama ou de amarela cabracega jogo da velha o livro acaba o mundo fina o amor despluma e tremulina a mão se move a mesa vira verdade é o mesmo que mentira ficção fiação tesoura e lira que a mente toda se ensafira e madriperla e desafina cantando o pássaro por dentro por onde o canto dele afina a lâmina mais língua enquanto a língua mais lamina aqui me largo foz e voz ponto sem nó contrapelo onde cantei já não canto onde é verão faço inverno viagem tornaviagem passand’além reverbero não conto não canto não quero descardenei meu caderno livro meu meu livrespelho dizei do livro que escrevo no fim do livro primeiro e se no fim deste um um outro é já mensageiro do novo no derradeiro que já no primo se ultima escribescravo tinteiro monstro gaio velho contador de lériaslendas aqui acabas aqui desabas aqui abracadabras ou abres sèsamoteabres e setetrelas cada uma das setechaves sigilando à tua beira à beira-ti beira-nada vocêvoz tutresvariantes tua gaia sabença velhorrevelho contador de palavras patranhas parêmias parlendas rebarbas falsário de rebates finório de remates useiro de vezos e vezeiro de usos tutecomigo conosconvosco contingens est quod potest esse et non esse tudo vai nessa foz de livro nessa voz e nesse vós do livro que saltimboca e desemboca e pororoca nesse fim de rota de onde não se volta porque no ir à volta porque no ir revolta a reviagem que se faz da maragem de aragem de paragem de miragem de pluma de aniagem de téssil tecelagem monstrogaio boquirroto emborcando o teu solo mais gárrulo colapsas aqui neste fim-de-livro onde a fala coalha a mão treme a nave encalha mestre garço velhorrevelho mastigador de palavras malgastas  laxas acabas aquiabas tresabas sabiscôndito sabedor de nérias com tua gaia sabença teus rebus e rebojos tuas charadas de sonesgas sonegador de fábulas contraversor de fadas abstractor de demência mas tua alma está salva e enquanto somes ele te consome enquanto o fechas a chave ele se multiabre enquanto o finas ele translumina essa linguamorta essa moura torta esse umbifilio que prega à porta pois o livro é teu porto velho faustinfausto mabuse da linguagem persecutado por teus credores mefistofamélicos e assim o fizeste assim o teceste assim o deste e avrà quase l’ombra della vera costellazione enquanto a mente quase-íris se emparadisa neste multilivro e della doppia danza
– Haroldo de Campos, fragmento 50 – ‘canto galático’, do livro “Galáxias”. São Paulo: Editora 34, 2004.
§
il cuore: interlóquio milanês1.
à
consorte-cirurgiã
do cirurgião que estuda
(anatomiza) o
coração das baleias (um raro
hobby lombardo)
pergunto: de que cor é o formidável
balênico
(balordo?)
músculo cardial do
piramídeo monstro?
(montanhosa mole
de carne congelada
que a alfândega libera
– estupefacta!
procedente do mais
interno fundo dos profundos
arcanos equóros da noruega)2.
responde-me: vermelho-
-escuro tendendo para o roxo
colore nero viola
iodo vinho
tinto arrolhado em
frasco fosco
(estamos em milão:
chove sobre o chiostro verde-
grama
deste palazzo degli ucelli
via capuccio
número (talvez)
dezoito (sulla destra) onde
se comemora o aniversário (compleanno)
refinadíssimo do
padrone della casaum party ao ar aberto
luz seral
no chiostro retangular
música em surdina
convivas chiachierando
com toques pervasivos
de fellini)3.
sim – reitera a
cirurgiã-assistente
(cônjuge) toda charme
e ciência:
roxo foncé
– não vermelho vivo
escarlate berrante mas
de um tinto carregado
profundo-escuro-sanguinosa
massa muscular agora
rígida que um dia palpitou sub-
oceânica ou
já emersa do vórtice quando
gigântea rege
o hídrico fluxo do
esguicho d’água
alto arremessando-o contra o céu –
plúmbeo-translúcida
cúpula chuvosa do homérico mar salino –
quando (mamífero prodígio)
a arrogante bucaneira capitânea
se ejeta do centro aquoso
e já respira4.
roxo-profundo o coração?
(eu aparteando) – pode ser –
do cachalote energumênico ou
o miocárdio (chi lo sà) da
orca feroz que exsurta
pavoneia o seu gáudio turbinoso
– admito:5.
concordo até
mesmo (ex corde) – mas
o de moby dick
o da baleia branca que navega
– dogaresa
sereníssima –
na paz pelaginosa de seus glaucos
domínios
o coração cetáceo da abadessa
do mar-alto                estesó pode ser azul
puro azul pulsante
safira compulsa e celestina
azur
azurro
blau
sky blue
batendo – desdenhoso
do arpão colérico de ahab –
até remergulhando rebater
contra a líquida pretidão onde
afinal se engolfa
– Haroldo de Campos, em “Entremilênios”. [organização Carmen de Arruda Campos]. Coleção Signos, 48. São Paulo: Perspectiva, 2009.
 §
Haroldo de Campos, em “Noigandres 4”  – 1958 (iconografia)
Haroldo de Campos, em “Noigandres 4”  – 1958 (iconografia)
Gata Lady – de Haroldo de Campos

Haroldo de Campos – Galáxias – “Isto não é um livro de viagem” . São Paulo: Ed. 34, 1992.
Foram selecionados 16 fragmentos dos 50 “cantos galáticos” do livro “Galáxias” nas quais Haroldo canta/conta os caminhos da viagem. Ora obscuros, ora completamente enegrecidos. O texto oralizado vira mantra e faz mais sentido quando acompanhado à cítara de Alberto Marsicano. A assistência técnica foi do poeta e compositor Arnaldo Antunes e o CD veio encartado à reedição de “Galáxias” pela Editora 34.

“Nessa “prosa-poema”, semeado de palavras-montagem, estruturado em segmentos rítmico-prosáico, encontra-se, por assim dizer, a “pré-história” barroca da minha poesia. Em certo sentido, retomei-o e radicalizei-o na escritura galática que elaborei posteriormente. Para passar às Galáxias, no entanto, foram decisivos, por um lado, a idéia de “concreção”, de “blocos semânticos”  associados por súbito curto-circuito de significantes; por outro, o exercício do “controle do acaso”.”
– Haroldo de Campos, em “Galáxias”. São Paulo: Editora 34, 2004, p. 270.

ALGUMAS POESIAS TRADUZIDAS POR HAROLDO DE CAMPOS

Escrito com tinta verde
A tinta verde cria jardins, selvas, prados,
folhagens onde gorjeiam letras,
palavras que são árvores,
frases de verdes constelações.

Deixa que minhas palavras, ó branca, desçam e te cubram
como uma chuva de folhas a um campo de neve,
como a hera à estátua,
como a tinta a esta página.

Braços, cintura, colo, seios,
fronte pura como o mar,
nuca de bosque no outono,
dentes que mordem um talo de grama.

Teu corpo se constela de signos verdes,
renovos num corpo de árvore.
Não te importe tanta miúda cicatriz luminosa:
olha o céu e sua verde tatuagem de estrelas

Escrito con tinta verde
La tinta verde crea jardines, selvas, prados,
follajes donde cantan las letras,
palabras que son árboles,
frases que son verdes constelaciones.

Deja que mis palabras, oh blanca, desciendan y te cubran
como una lluvia de hojas a un campo de nieve,
como la yedra a la estatua,
como la tinta a esta página.

Brazos, cintura, cuello, senos,
la frente pura como el mar,
la nuca de bosque en otoño,
los dientes que muerden una brizna de yerba.

Tu cuerpo se constela de signos verdes
como el cuerpo del árbol de renuevos.
No te importe tanta pequeña cicatriz luminosa:
mira al cielo y su verde tatuaje de estrellas.
– Octávio Paz, em “Transblanco: em torno a blanco de Octávio Paz”. [tradução Haroldo de Campos em parceria com Octávio Paz]. São Paulo: Siciliano, 1994.

§

Orquídea: entre tanta gente
Bonita a cor do cabelo desta moça, bonito
o cheiro
de abelha do seu zumbido, bonita a rua,
bonitos os pés de luxo nos dois
sapatos áureos, bonita a maquiagem
das pestanas às unhas, o fluvial
de suas esplêndidas artérias, bonita a physis
e a metaphysis da ondulação, bonito o metro
e setenta da estatura, bonito o pacto
entre osso e pele, bonito o volume
da mãe que a urdiu flexível e a
ninou esses nove meses, bonito o ócio
animal que nela anda.

Orquídea en el gentío
Bonito el color del pelo de esta señorita,
bonito el olor
a abeja de su zumbido, bonita la calle,
bonitos los pies de lujo bajo los dos
zapatos áureos, bonito el maquillaje
de las pestañas a las uñas, lo fluvial
de sus arterias espléndidas, bonita la physis
y la metaphysis de la ondulación, bonito el
metro
setenta de la armazón, bonito el pacto
entre hueso y piel, bonito el volumen
de la madre que la urdió flexible y la
durmió esos nueve meses, bonito el ocio
animal que anda en ella.
– Gonzalo Rojas, em “Orquídea en el gentío”. [transcriação de Haroldo de Campos]. in: CAMPOS, Haroldo de. “Sympoética latino-americana”. in: _____ O segundo arco-íris branco. São Paulo: Iluminuras, 2010.

http://www.elfikurten.com.br/2016/02/haroldo-de-campos.html

Haroldo de Campos. ILÍADA, I, 1-14

Luciana Stegagno Picchio

Cantami o Diva del divino Achille l’ira funesta». La traduzione di Vincenzo Monti del primo canto dell’Iliade risuona negli orecchi di tutti gli italiani che abbiano frequentato il liceo negli anni andati, così come risuonava ancora negli orecchi dei brasiliani contemporanei di Haroldo de Campos la traduzio-
ne ottocentesca di Odorico Mendes, tanto duramente condannata da Sílvio Romero e riscattata, negli anni ’60 del secolo scorso, da un Haroldo che in quel tempo andava sperimentando la sua teoria della traduzione come trascreazione o traduzione creativa. Si trattava, nella sua formulazione, di un modo di tradurre «che si preoccupava eminentemente della ricostituzione in portoghese dell’informazione estetica dell’originale, non facendo dunque proprio il semplice scopo didattico d’ausilio alla lettura dello stesso originale.

Ho l’impressione che Haroldo de Campos (1929-2003), uno dei poeti e dei critici più rappresentativi della letteratura brasiliana del secolo XX, ispiratore, insieme al fratello Augusto e all’amico Décio Pignatari, del movimento della poesia concreta, sarà ricordato in futuro soprattutto come teorico della traduzione e grande traduttore. Ha tradotto Dante, i trovatori provenzali, Mallarmé, Majakovskij, Joyce, Pound e, sulla sua scia, i poeti cinesi e giapponesi antichi e contemporanei, ma ha tradotto anche il biblico Qohelet. Nel corso di una decade estremamente produttiva e purtroppo terminale della sua vita, periodo della durata della guerra di Trioa, si è infi ne dedicato, anima e corpo, alla “trasellenizzazione”di tutta l’Iliade di Omero. Il primo canto della impresa magna, questa Ira de Aquiles, che nel 1979 aveva tentato anche un poeta italiano quale Salvatore Quasimodo, era già uscito presso la casa editrice Nova Alexandria di San Paolo nel 1994. Con la sua scelta dell’alessandrino (l’unico metro in grado di consentire una concordanza verso per verso con l’originale, ossia di ottenere in portoghese lo stesso numero di versi del testo greco, al contrario del decasillabo camoniano, che più di una volta aveva co stretto Odorico a «prodigi di compressione semantica e contorsione sintattica»), Haroldo dimostrava la sua capacità poetica di produrre nelle sue versioni testi capaci di affermarsi come originali autonomi par droit de conquête. Ma c’era qui anche un’inaspettata “fe-
deltà” all’originale, testimonianza dell’estremo rispetto del poeta nei confronti della “rapsodia” omerica, oltre ché del suo lungo studio a fi anco di un maestro-allievo come Trajano Vieira. Nella continua esitazione tra il suono e il senso, che costituisce l’essenza della poesia, all’inizio, quando nonpensava ancora di tradurre tutto il poema, il traduttore aveva cercato solamente di ricreare la forma dell’espressione e la forma del contenuto del Canto I dell’Iliade.
Attento alle paronomasie, allitterazioni e onomatopee, cercando persino di recuperare etimologie, aveva desiderato «costituire unicamente un modello intensivo, un paradigma attuale e attuante di trascreazione omerica». E il risultato fu, nella terra di Guimarães Rosa, questo miracolo di invenzione del vocabolo che è la sua Iliade. Il «Peleio Aquiles», del canto I,1, il «divino Aquiles» del canto I,7, era diventato nel canto I,241-42, «Aquiles, Dor do Povo», in una decifrazione etimologica che passò a funzionare da auto-
epiteto, emblema del personaggio. Quante altre invenzioni, ricreazioni, frutto del lavoro di Haroldo incontriamo nel corso dei due volumi (2001 e 2002) di questa eccezionale Iliade brasiliana che, come voleva un Sousândrade rivisitato dai fratelli Campos, venne «abrindo ao oriente a homérea rodo-dáctila Aurora»?

http://www.comunitaitaliana.com.br/mosaico/mosaico90/haroldo.htm


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