Pierre Alferi – CERCARE UNA FRASE – Intime de Pierre Alferi par Bérénice Biéli – Pierre Alferi Rodolphe Burger Elvin Jones

Pierre Alferi



Pierre Alferi nasceu em Paris, em 1963. Seguiu estudos de filosofia, porém decidiu não lecionar. Publicou romances, traduções e livros de poemas, dentre os quais, Kub Or, Sentimentale Journée e Les Jumelles, e produziu alguns vídeos. Seu primeiro livro, Les Allures naturelles, é de 1991 e foi lançado concomitantemente ao pequeno tratado Chercher une phrase, cuja proposta está baseada em uma tentativa de iluminar uma ideia intuitiva da prática literária. Este texto é interessante na medida em que busca pensar a escrita se inscrevendo em um lugar de tensão: ao mesmo tempo em que é um texto crítico, inserido em um ponto de vista crítico, Alferi parte da sua experiência como poeta, da experiência no momento em que preparava seu primeiro livro de poemas, e por isso, o material que utiliza para o ensaio é empírico. Se a crítica busca ler o que está além da poesia, será que Alferi, ao se inscrever neste lugar de onde parte seu Chercher une phrase, consegue escrever a partir da poesia, isto é, do ponto de vista de quem escreve? Como alcançar esta voz com dupla inscrição, que seja crítica mas que leia a partir do poema, considerando seu movimento, sua tensão, seu entrelugar?

Nos anos 1990, o poeta editou, junto com Olivier Cadiot, a Revue de Littérature Générale, revista com dois números que teve bastante repercussão na época de seu lançamento.


Alferi denomina seu trabalho em vídeo como “cine-poesia”, alcunha interessante já que os vídeos possuem uma linguagem bem singular, compaginando na tela texto-imagem-áudio de modo a resultar em cine-poemas. Apresentamos neste post o vídeo Tia Elizabeth, cujo áudio é tirado de uma canção folclórica francesa, e fragmentos do livro Íntimo, publicados no segundo número impresso da revista Modo de usar & co. e que constitui o roteiro de outro vídeo de Alferi, com mesmo nome, publicado em um DVD de poesia contemporânea.

— Marília Garcia

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CINE-POEMA E TEXTOS DE PIERRE ALFERI

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Tia Élisabeth

Atrás da casa de nossa Tia Elisabeth há o mais lindo
[pomar dos pomares
e no pomar a mais linda cerejeira das cerejeiras
e na cerejeira os mais lindos galhos dos galhos
e sobre os galhos as mais lindas folhas das folhas
e sobre as folhas o mais lindo ninho dos ninhos
e no ninho os mais lindos ovos dos ovos
e sobre os ovos o mais lindo pássaro dos pássaros
e sobre o pássaro as mais lindas penas das penas
e sobre as penas as mais lindas cores das cores
Sobre as cores há o mais lindo céu dos céus
e no céu a mais linda nuvem das nuvens
e na nuvem a mais linda chuva das chuvas
e sobre a chuva o mais lindo sol dos sóis
e ali como não há mais nada meia-volta volver

(tradução de Marília Garcia)

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Trechos do livro Íntimo

Cara Sedentária

poucos quilômetros nos separam
porém ouço suas últimas palavras
em uma língua estrangeira
veja quantos dias sem estarmos juntos

será que estivemos mesmo daquela outra vez?
algum dia você se convencerá
de minha presença ao seu lado?

deslastrado de minha sombra
os óculos desembaçados
eu olho para o leste

Caro Relativoaterrissagem diferida
nos colocaram no centro
bem no alto de um hotel
do antigo regime (vai
saber quantos casais de
apparatchiks-prostituídos refletiu
o armário com espelho)
retorno ao quarto várias vezes
para digerir a sensação
de cidade em obras
fluida e cheia de arestas
consertar à máquina
pintar sobre um calco
o que falta ao strip-tease
de um campo em ruínasde cima do décimo-terceiro andar
as transformações são claras
o vidro, obstinadamente líquido
e o céu mudo, como uma cobrameus compromissos são adiados
o motivo mesmo de minha vinda
sai para passeareu tento o que me tenta
com o risco de perder um tempo louco
buscando objetos úteis
dando-lhes uma função
durante um ou dois minutos
sem fazer nada em um banco
entregue ao caos
de figuras, cores
sons

Caro Antiquáriopara fazer voltar o tempo
você seria um salmão
ou um relojoeiro?
eu sugiro em vez disso
tocar um disco ao contrário
sonhar em húngaroos monumentos ficam
muito acima das nossas cabeças
quando os devoramosse a distância percorrida
fosse contada em séculos
eu desceria na planície
colocaria um belo chapéu
e deixaria crescer o bigode

Cara Íntima

enfim próximos

você receberá esta
mini-mensagem a tempo?
eu custo a terminar a clepsidra
e apagar as lembranças

se você ingressasse no paraíso
ele se pareceria a quê?

você tem tanta certeza
de que nos reconheceremos?
eu adio o momento
assobiando night and day

será que não esperamos demais
nos encontrar no mesmo lugar
no mesmo instante?

(tradução de Marília Garcia)

chère sédentaire: peu de kilomètres nous séparent / pourtant j’entends tes derniers mots / dans une langue étrangère / voici trop de jours que nous ne sommes ensemble // l’étions-nous vraiment l’autre fois / seras-tu jamais convaincue / de ma présence à tes côtés? // délesté de mon ombre / les lunettes désembuées / je regarde vers l’est.
cher relatif: atterrissage differé / on nous a placés haut / dans un hôtel d’ancien régime / au centre (allez savoir / combien d’accouplements apparatchik-prostituée / a reflété l’armoire à glace) //je regagne souvent la chambre / pour digérer la sensation / de la ville en travaux / fluide et pleine d’arêtes / bricoler sur la machine / peindre sur un calque / ce qui manque au strip-tease / d’un champ de ruines / vues du treizième étage / les transformations sont claires / le verre, obstinément liquide / et le ciel mue comme un serpent / mes rendez-vous sont reportés / la raison même de ma venue / part en promenade // je tente ce qui me tente / quitte à perdre un temps fou / à chercher les objets utiles / à les mettre en état / pour une ou deux minutes / d’abandon sur un banc / au chaos délié / des figures, des couleurs / des sons
cher antiquaire: pour remonter le temps / serais-tu saumon / ou horloger? / je suggère, à defaut / de passer un disque à l’envers / de rêver en hongrois // les monuments sont trop / au-dessus des têtes / quand on les dévore // si la distance courue / se comptait en siècles / je descendrais dans la plaine / je mettrais un joli bonnet / je ferais pousser ma moustache
chère intime: enfin proche // recevras-tu à temps ce mini-message? / je tarde à vider la clepsydre / à défaire mes souvenirs // si tu entrais au paradis / à quoi le verrais-tu? // es-tu si sûre / qu’on se reconnaîtra? / je repousse le moment / en sifflant night and day // avons-nous trop attendu / de nous trouver au même endroit / au même instant?

http://revistamododeusar.blogspot.it/2010/08/pierre-alferi.html

da CERCARE UNA FRASE / Pierre Alferi. 1991

Closed Published by alessandro February 22nd, 2009 in kritik, op. cit., testo

La letteratura mette in opera una teoria della frase. […] Nuove frasi operano soltanto su ciò che dicono e contengono in sé il proprio passato. […] Le frasi della letteratura non sono descrittive, sono instauratrici.

La letteratura inventa il passato delle frasi.

L’oggetto letterario è la frase. [… ] Poiché la letteratura inventa le sue frasi, ha luogo nella frase.

Ogni frase è musicale. Eppure l’imitazione della musica sonora resta secondaria. […] La frase instaura un ritmo che le è proprio, ma che non è riducibile alla sua costruzione: una sintassi più ricca della sua grammatica. […] Così intesa, la sintassi è ben più dello scheletro della frase, è il suo sistema circolatorio: quel che c’è di ritmico nel senso.

La poesia è lo spazio critico dell’invenzione di frasi. […] La letteratura può essere definita attraverso l’inquietudine della sintassi.

La frase mette in ritmo una forza. Né l’origine né la natura di questa forza interessano alla letteratura. Questa forza la interessa solo nella misura in cui essa si orienta verso il proferimento. […] Per voler dire qualcosa, si deve disporre della frase in cui si articola questa volontà in cui questa cosa è nominata.

Instaurando la misura ogni frase diviene la propria unità di misura.

Le frasi, prima di tutto, si distinguono o attraverso il dispositivo ritmico, o attraverso la misura nei suoi diversi aspetti. Ricadendo, lo slancio del proferimento prende dapprincipio una certa piega, precipita in una curva. Nell’ironia lo slancio si capovolge, nell’ellisse si interrompe, nel paradosso diverge, nella correzione si riprende, nella concessione cala ecc. Queste curve non possono in nessun modo essere al di fuori della frase, e neppure si formano prima di questa.

La frase mette in ritmo le cose. È un’esperienza. Tutto ciò che viene chiamato “esperienza” suppone successione e gerarchia — cioè ritmo e sintassi. Fare un’esperienza, portarla a termine, è dirla. La frase fornisce la forma sintattica che definisce l’esperienza, e in questo modo la fa.

Ogni minima cellula ritmica si trova presa in un gioco di contrasti, di anticipazioni, di richiami. Queste relazioni interne, che fanno il ritmo della frase, non distaccano la parola dalla cosa, non intaccano il riferimento. (Le frasi della letteratura sono calchi sulla carta referenziale: non ne modificano i punti, ma ne fanno una selezione per tracciare linee ritmiche.) Eppure, questo ritmo sintattico, mettendo in gioco il riferimento, gli impone una tale tensione che le cose si sollevano leggermente, si staccano leggermente dal proprio luogo, a loro volta trasportate. La tranquilla presenza in cui s’insediano, oggetto di una certezza che fa dimenticare la contingenza della loro apparizione, viene provvisoriamente sospesa. La sintassi rianima le cellule ritmiche elementari. La frase fa scintillare il riferimento, creando così un’oscillazione nelle cose. (Il trasporto delle cose attraverso il linguaggio non è metaforico). Ma questa assenza di gravità dura solo il tempo della frase. Il riferimento assicura l’ancoraggio delle parole alle cose nel loro luogo proprio. Sollevatesi leggermente, queste ultime non possono che ricadere, ritrovando il calmo soggiornare in cui l’abituale percezione le riconosce. La frase sarà stata per se stessa la possibilità di un breve soprassalto.

Un pensiero è una frase possibile. Una frase deve alla sintassi tanto il ritmo che la trascina quanto quello del riferimento per mezzo del quale essa trascina le cose. […] Pensare significa: cercare una frase.

(L’invenzione è solo in apparenza circolare: piuttosto, una spirale alla cui periferia sta la memoria anonima del linguaggio e al centro la forma definitiva della frase).

Si dà letteratura quando l’evidenza della necessità della frase l’ha vinta sulla comprensione, l’evidenza del suo senso.

La letteratura è pensiero puro, cioè libero. […] Una frase dice delle cose e non ha nessun bisogno di imitarle: le nomina. Una frase dice un pensiero e non ha nessun bisogno di rappresentarlo: fissa la forma sintattica di cui questo pensiero fu la ricerca. […] Il solo scopo della letteratura è inventare nuove forme sintattiche, nuove messe in ritmo: estendere il linguaggio.

La chiarezza è l’eleganza di una forma sintattica, come quando in matematica si parla dell’eleganza di una dimostrazione. […] La chiarezza è la giustificazione dell’invenzione di frasi nell’economia del linguaggio.

Un testo è ben più di una lunga frase o di una grande forma, poiché, nel concatenamento delle sue frasi, il suo idioma si mostra sempre capace di produrre altri concatenamenti e altre frasi.

La coerenza poetica è superiore — in quanto libera — a quella del racconto, del ragionamento e del discorso in generale; essa è strettamente testuale.

La voce in nessun modo precede il testo: prima che un insieme di frasi si sia formato, non esiste.

(Frammenti liberamente tratti da: Pierre Alferi, Cercare una frase, traduzione di Federico Ferrari, Lanfranchi, 1991.
Immagine: Allen Ruppersberg, Low to High, 1994-96, Margo Leavin Gallery, Los Angeles.)

http://gammm.org/index.php/2009/02/22/da-cercare-una-frase-pierre-alferi-1991/

Intime de Pierre Alferi par Bérénice Biéli

Dans le lieu impossible que trace – selon plusieurs modalités expressives (poème, dessin, cinépoème, musique) – la dernière œuvre de Pierre Alferi, l’intime semble échapper autant au lecteur qu’au(x) destinataire(s) anonyme(s) du texte. De l’intime, nous ne retenons que les signes émis dans et par le dehors ; un dehors urbain, un trajet, une er-rance.

     Les lieux à partir desquels l’intime se dit sont souvent des lieux de transit, impliquant un déplacement dans l’espace, des lieux publics où, précisément, l’intime se retire pour laisser se déployer le dehors. Mais d’emblée l’intime s’adresse à l’autre, à la « chère sédentaire » que des kilomètres séparent du narrateur. Comment saisir l’intime sinon en prenant toute la mesure d’une relation où se joue la dialectique de l’intérieur et de l’extérieur, de l’espace « propre » et des lieux publics ? Le cinépoème « Intime » montre des séquences de trajet en train : le paysage s’abstrait  et se fond dans une ambiance sonore où l’étrangeté rejoint le mode de l’errance : « dans une langue étrangère / délesté de mon ombre / je regarde vers l’est ». Abandon, rendez-vous reportés, destination inconnue ; l’intime est loin d’être « cette moite intimité gastrique » (pour reprendre la terrible expression de Sartre), toute confinée dans un corps égocentré, l’intime est loin et proche ou plutôt il est ce mouvement du lointain et du proche signifiant l’indistinction des lieux et des espaces, l’abolissement des limites du privé et du public. Mouvement par lequel une forme familière se détache et impose sa présence : « figure-toi qu’il y a / même ici des visages familiers / il faut les dégager du sable / les éclairer quand le vernis / a bruni ».

     La composition plurielle d’Intime a une cohérence qui lui est propre. Les procédés expressifs se répondent en répétant parfois les mêmes motifs : des fragments de poèmes écrits qu’on retrouve dans le cinépoème. Intime semble ainsi donner accès, par des voies multiples, au nœud relationnel mis en péril par la séparation, laquelle pourtant est la condition même de l’errance qui dessine les contours de ce lieu impossible qu’est l’intime.  Si l’espace – l’espacement – et l’éloignement des choses fait surgir cet intime, le temps, par conséquent, en est une seconde modalité. Temps du décalage horaire qui sépare le narrateur du destinataire, temps du transport, de la durée et donc de l’errance (comme si le destinataire du poème se substituait réellement à la possible destination du voyage, on en revient à la question répétée : « mais toi ? »). Mais surtout le temps du discours et, plus précisément, de la correspondance amoureuse : « chère intime / enfin proche / recevras-tu à temps / ce mini-message ? ». L’intime semble alors s’inscrire dans cet incessant décalage entre le familier (le destinataire) et l’étrangeté apparente qu’évoquent les inscriptions urbaines du cinépoème « er » ; elles ne s’adressent à personne en particulier et se donnent, dans le grand espace de la ville, à n’importe quel anonyme, comme fragments de poèmes-limites sans auteur et sans lecteur. L’intime apparaît au final comme cet « autre » qui permet de tenir dans le « chaos délié » :

 « Seul je perds l’équilibre / je n’ai rien de plus intime / que vous ».

http://www.sitaudis.fr/Parutions/intime-de-pierre-alferi.php


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